sábado, 5 de janeiro de 2008

Vidas de quinta no século XX


Estranhamente sopra uma brisa anormal neste tórrido Agosto.
Os pássaros sentem-se perturbados com a evoluçao do tempo. Batem as asas com tal veemência que até parece terem um motor acoplado. As andorinhas voam alto e pressentem chegada de trovoada.
Ao longe mais um incêndio arrasa um dos montes que circundam a cidade que, e atiçado pelo vento, cavalga alheio a todas as preces dos velhos na Igreja da Nossa Senhora da Conceiçao. É o fim do mundo, divaga com ar carrancudo uma septuagenaria. À medida que nos aproximamos do final do século, não tenham dúvidas que Deus vem castigar-nos! Bem, premonições que seguramente ninguém leva muito a sério ou não fora este país de católicos não praticantes.
Lá bem no fundo da quinta, dois jovens procuram acudir às pragas das videiras despejando sulfato de cobre com uma máquina tradicional de cobre, uma relíquia que se mostra eficaz. Estavam longe de perceber o perigo que os faria mudar de rumo. A chuva começou a cair, violenta. Um cheiro a terra molhada tomou conta do ambiente. E, como diria a minha mãe, o "astro" estava de má feição. Os rapazes entenderam que o castanheiro centenário seria o seu abrigo e ainda bem que mudaram de ideias e desataram a correr com a máquina às costas...Um raio rasgou os céus e com enorme estrondo rachou uma boa parte da árvore! Nunca mais seria o castanheiro marcante daquela quinta e anos mais tarde depois de espremidas as últimas castanhas num outono cinzento, o dono resolveu cortá-lo e vendê-lo para pranchas de madeira. Um fim triste de uma árvore pomposa e que a todos cativava. As rolas não tinham mais o seu ramo predilecto para colocar os seus miseráveis ninhos de simples paus laboriosamente acamados.

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