quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O toreiro e a comida dos porcos


No final dos anos 60 os meus irmãos mais velhos resolveram ir passar o fim de ano a duas festas diferentes. Era assim! Julgo que os meus irmãos nunca partilharam muitas cumplicidades e diria mesmo havia algum afastamento quer do ponto de vista fisico, mas também ideológico. Um era amante das tertúlias citadinas face a maior propensão para o engate e com a sua forma de vestir mais cuidada (desacreditava as origens humildes com seu ar de alã), o outro era mais virado para o desatino, acompanhava "artistas" tocadores de bombos e violas. Tocava muito bem gaita de beiços o que à época era sinal de farrista. Consta que pertenceu a um grupo de "barulhentos" de curta memória para gáudio dos pais. Nessa noite de frio de rachar eles combinaram chegar a casa à mesma hora. Foram direitos à velha cozinha onde a mãe tinha os habituais panelões de cozer a comida para os porcos - a famosa "Vianda", mas o lume estava apagado! Para rapidamente se aquecerem lançaram mão a um garrafão de petróleo com que atearam o fogareiro de serradura (uma verdadeira preciosidade) e ...quando deram conta até o telhado ardia. A preocupação era apagar o fogo e não dar o alarme para os pais não acordarem e não entrar em acção o "toreiro no lombo". Como não pretendiam fazer barulho atiraram com os paneloes da sopa dos porcos e apesar de tudo ter ficado sujo e impestado de um cheiro intenso a caldo entornado, o milagre aconteceu - extinguiram o incendio...
Apanharam novas couves e nabos na quinta e voltaram a repor o importante cozido, limparam tudo e foram dormir já o sol raiava os seus primeiros gracejos de um novo ano. Foram satisfeitos com o feito e já não tinham frio face à tarefa efectuada. O famoso "toreiro" não tinha entrado em acção... É de realçar que confrontados com a historia há quem não confirme nada do que está escrito e referem que teria sido mais uma invençao de um dos intervenientes - afinal adorava divagar! Eu acredito já que são muitas coincidências, mas...
Nota: Toreiro - caule de couves altas que dava um verdadeiro chicote grosso.
Vianda: iguaria, no caso para os bácoros

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