quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Impressões dos anos 60/70


Nos anos 60 e 70 a vida de quinta não se podia dizer que era simples. Na verdade, trabalhava-se muito e as recompensas eram diminutas.Creio mesmo, que Viseu era uma cidade muito rural e subdesenvolvida que tinha as maiores carencias.Recuando 30/40 anos e apreciar a cidade nesse tempo, deparamo-nos com um peso enorme da agricultura e tudo o que gravitava em seu redor: as feiras, as tradições, a educaçao e cultura pouco evoluidas, etc. Tempos sem saudade...apesar dos velhos do restelo nos dizerem continuamente que "naqueles tempos é que se vivia bem"! Parece impossível, mas apetece-me gritar bem alto que naqueles tempos só viviam alguns, os outros limitavam-se a ver os outros viver! Viviamos de esmolas, de reverencias aos senhores da terra, reminiscencias do feudalismo...atrasos irreparáveis que ainda hoje pagamos. Isto para não falar que os filhos dos pobres em idade adulta eram atirados para a Guerra Colonial e os filhos dos ricos eram enviados para a Suiça, Holanda, etc..Hoje são muitos os patriotas a falarem de guerra do ultramar, mas será que falam das provações porque passaram os pais que viram partir os filhos nos seus saloios 20 anos?? Não...falam de exilios dourados, faustos que as boas linhagens sempre pagaram! Há tanta hipocrisia neste rectângulo murcho e triste...

Vejamos:

- A escola pimária era um perfeito absurdo.Os alunos eram convidados a dissertar sobre o HINO e Bandeira em longas redacções. Quem podia alinhava na Mocidade Portuguesa - estrutra fascizante que dizia muito a poucos - os do costume. Levávamos reguadas e bofetadas sempre que não cumpriamos com professores apegados a sistemas arcaicos. O frio e a fome eram tradições e Salazar era um verdadeiro Deus, omnipresente em todas as estruturas sociais.
A PIDE estava ao virar da esquina, o meu moleiro tinha uma fotografia do Salazar e do Tomás na parede da sua moagem. Na Igreja quem era rico (poucos, mas os mesmos de quase sempre) tinham sempre posição de destaque. Na visita Pascal o Padre ia almoçar sempre à casa da família mais abastada da freguesia em Santiago. Não deveria ser à cabana mais pobre? Não...a Igreja sempre levou a sério o velho ditado: "Muito bem prega S.Tomás ..."E que dizer que na 1ª comunhão o Padre da freguesia não queria consagrar o meu irmão só porque não tinha o laço aposto no braço como mandava a tradição? Mais tarde viria a ser confrontado com a mesma visão erronea da fé católica. Quando precisava da autorização do padre da freguesia de S.José para me casar em Sta Maria...olhou-me de desdém e disse que não era habitual estar na missa de domingo!! Roguei que estava a estudar em Coimbra e nunca mais esqueci a sua insensibilidade. Como se precisássemos de um padre para nos casarmos e praticarmos todo o bem do Mundo ...às vezes a nossa Igreja que deveria dar o exemplo comporta-se como uma exposiçao de vaidades, uma verdadeira agremiação de poderosos,pessoas com telhados de vidro. Nunca me cativaram e não pertenço a qq Maçonaria.
Já perceberam porque são estas situações que nos fazem descrer da Igreja instituição...É tão ridiculo:
- Sr Capitão venha falar ao altar, por favor! Agradeço que quem não seja atleta de Cristo se cale...Aconselho que a mães mandem calar os seus filhos pequenos. Neste lugar Cristo ouve-nos!
Na verdade, só tenho saudades de quando o vozeirão do meu pai cantava as Hossanas na missa domingueira. Fazia-o com alegria, diria mesmo que seria dos poucos bons momentos que o meu pai gostaria e ninguém o perturbava. Fazia-se notar na Igreja da N.Senhora da Conceição...às vezes lembro-me que herdei dele esses dotes no Canto Gregoriano...fascinam-me os acordes nos templos frios e com acústica.Noutra vida talvez tenha sido um Andrea Bocceli.

Diversões:


Tempos dos Beatles,Manfred Man, Led Zepelin, Procul Harum,1111, Jose Cid, Simone, Tonicha, Calvario, Amalia ...Dançava-se em bailes, matinés de arrastar os pés e "constituir familia".As festas das aldeias eram a grande esperança do engate dos moços da época. Começava em Gumirães em Maio e terminava em Ranhados pelo tempo da Feira de S.Mateus, em Setembro. Eram tempos delirantes para a minha irmã espanpanante loira numa época sorumbática e de conformidades. Corria por todas as festanças e bailes da cidade e arredores, eu acompanhava qual cão de fila pronto a guardar a dama dos incautos.Eu não gostava muito de rebuçados! A minha mãe, corria as festas de toreiro e mangueira debaixo do xaile.A sua filha não cumpria as regras e os horários de entradae a minha mãe precavendo-se dos "pinga-amores" distribuia a sua ira em gestos gastos de tanta protecção. Sei que eram os tempos de defesa da honra que ditavam aquelas condutas.


Será que distribuir mangueiradas a torto e a direito em Orgens, S.Salvador ou Abraveses não era uma forma de exorcizar fantasmas ou motivações de ciúmes? Afinal a mãe divertiu-se quando?Não era fácil a vida naqueles anos de pobreza...






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