Vejamos:
- A escola pimária era um perfeito absurdo.Os alunos eram convidados a dissertar sobre o HINO e Bandeira em longas redacções. Quem podia alinhava na Mocidade Portuguesa - estrutra fascizante que dizia muito a poucos - os do costume. Levávamos reguadas e bofetadas sempre que não cumpriamos com professores apegados a sistemas arcaicos. O frio e a fome eram tradições e Salazar era um verdadeiro Deus, omnipresente em todas as estruturas sociais.
A PIDE estava ao virar da esquina, o meu moleiro tinha uma fotografia do Salazar e do Tomás na parede da sua moagem. Na Igreja quem era rico (poucos, mas os mesmos de quase sempre) tinham sempre posição de destaque. Na visita Pascal o Padre ia almoçar sempre à casa da família mais abastada da freguesia em Santiago. Não deveria ser à cabana mais pobre? Não...a Igreja sempre levou a sério o velho ditado: "Muito bem prega S.Tomás ..."E que dizer que na 1ª comunhão o Padre da freguesia não queria consagrar o meu irmão só porque não tinha o laço aposto no braço como mandava a tradição? Mais tarde viria a ser confrontado com a mesma visão erronea da fé católica. Quando precisava da autorização do padre da freguesia de S.José para me casar em Sta Maria...olhou-me de desdém e disse que não era habitual estar na missa de domingo!! Roguei que estava a estudar em Coimbra e nunca mais esqueci a sua insensibilidade. Como se precisássemos de um padre para nos casarmos e praticarmos todo o bem do Mundo ...às vezes a nossa Igreja que deveria dar o exemplo comporta-se como uma exposiçao de vaidades, uma verdadeira agremiação de poderosos,pessoas com telhados de vidro. Nunca me cativaram e não pertenço a qq Maçonaria.
Já perceberam porque são estas situações que nos fazem descrer da Igreja instituição...É tão ridiculo:
- Sr Capitão venha falar ao altar, por favor! Agradeço que quem não seja atleta de Cristo se cale...Aconselho que a mães mandem calar os seus filhos pequenos. Neste lugar Cristo ouve-nos!
Na verdade, só tenho saudades de quando o vozeirão do meu pai cantava as Hossanas na missa domingueira. Fazia-o com alegria, diria mesmo que seria dos poucos bons momentos que o meu pai gostaria e ninguém o perturbava. Fazia-se notar na Igreja da N.Senhora da Conceição...às vezes lembro-me que herdei dele esses dotes no Canto Gregoriano...fascinam-me os acordes nos templos frios e com acústica.Noutra vida talvez tenha sido um Andrea Bocceli.
Diversões:
Tempos dos Beatles,Manfred Man, Led Zepelin, Procul Harum,1111, Jose Cid, Simone, Tonicha, Calvario, Amalia ...Dançava-se em bailes, matinés de arrastar os pés e "constituir familia".As festas das aldeias eram a grande esperança do engate dos moços da época. Começava em Gumirães em Maio e terminava em Ranhados pelo tempo da Feira de S.Mateus, em Setembro. Eram tempos delirantes para a minha irmã espanpanante loira numa época sorumbática e de conformidades. Corria por todas as festanças e bailes da cidade e arredores, eu acompanhava qual cão de fila pronto a guardar a dama dos incautos.Eu não gostava muito de rebuçados! A minha mãe, corria as festas de toreiro e mangueira debaixo do xaile.A sua filha não cumpria as regras e os horários de entradae a minha mãe precavendo-se dos "pinga-amores" distribuia a sua ira em gestos gastos de tanta protecção. Sei que eram os tempos de defesa da honra que ditavam aquelas condutas.
Será que distribuir mangueiradas a torto e a direito em Orgens, S.Salvador ou Abraveses não era uma forma de exorcizar fantasmas ou motivações de ciúmes? Afinal a mãe divertiu-se quando?Não era fácil a vida naqueles anos de pobreza...
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